sexta-feira, 20 de junho de 2008

O Porto


O Porto não tem Norte, nem Sul, nem Este nem Oeste; o único rumo que tem é o enviesado. (...) Seja qual for o destino com que aqui saímos de casa, estamos condenados a perder-nos nessas vielas e ruas enoveladas que nos convidam a decifrá-las, a segui-las até ao fim impalpável, pois geralmente terminam em lado nenhum. (...) E quanto mais corremos de um lado para o outro, procurando orientar-nos, mais nos perdemos. (...) Dada a escassez de espaço, as pessoas coexistem aqui numa proximidade celular, e a vida evolui segundo a lógica imanente do mexerico. (...) O jogo das relações humanas assume aqui uma aparência de joalharia ou, melhor ainda, de filigrana. As pessoas, por estas bandas, têm mais segredos e andam mais bem informadas do que as polícias dos tiranos.

Mikhail Kuzmin, Passatempos de Província, 1922.

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