quarta-feira, 29 de abril de 2009

Violência Doméstica


10 comentários:

AC disse...

Desculpe Fresquinha,
-mas não consigo perceber como uma campanha pela não violência, a MOSTRA .
-como não entendo a 'necessidade' de fazerem reconstituições mais ou menos reais de actos de violência nos documentários, nos noticiários, nos anúncios, ...
-como não entendo a repetição ad eternum, de cenas violentas no futebol, na rua, nos tribunais, ...
-não entendo em que é que é que isso melhora a vida das pessoas que a sofrem, em que é que isso mudifica (acho que estimula) a vida ou o pensamento de quem as pratica, sobretudo os reincidentes e não os 'ocasionais'
-não entendo como se promove paz e concórdia, tolerância, humanidade (...) com exemplos opostos repetitivos
-não estão já demasiado feridas as pessoas que a sofrem para as ver dissimuladas?
-há muitas outras de denunciar, de fazer as mulheres(pessoas) saírem do anonimato, do temor, do horror em que vivem e encorajá-las a denunciar, já tenho visto exemplos mais subtis e para mim mais eficazes.

violência gera violência...

mas isto sou eu... que não entendo muita coisa.
AC

Fresquinha disse...

Obrigada e benvinda ao meu blog. Pois, também eu sou pela não violência. Principalmente por ter estado num cenário de violência durante 11 anos. O seu comentário é pertinente mas não deixa de sugerir um "tapar o sol com a peneira". Foi reconstituindo actos de violência, denúnciando essas práticas, por videos, programas, filmes, testemunhos, que mais e mais mulheres teem tido a coragem de não só reconhecer de que são vítimas de violência (há violência psicológica muito subtil)e teem agido, apresentando queixa junto das autoridades. E é recente esta consciencialização. Também, por razões de estatus social, muitas delas, não só se sentiam únicas na classe, como tinham até vergonha de o confessar no seu círculo de amigos, aos seus familiares, ...quanto mais às autoridades ...
E servem estas campanhas não só para transmitirem a essas pessoas que não estão sós, que é injusto e que há meios (fracos, confesso)
Um dos problemas de provar a violência,atravès de filmes ou fotografias, é que nem sempre existe uma prova testemunhal, nem um "duende" atràs da porta, de máquina em punho, a filmar o acontecido, e quase sempre a violencia dá-se precisamente por não haverem duendes à volta que defendam a vítima. Há muitas vezes filhos, que infelizmente assistem, incapazes de tomar decisões ...
Então, como obter filmagens dos factos ?
Não creio que a violência gere a violência. Há muitas frases destas que não fazem qualquer sentido. A violência não me fez violenta, como não a fez a si. Portanto, se por um lado, a violência faz com que alguém se defenda da agressão na mesma moeda, somos todos humanos e temos reflexos condicionados - como diria Pavlov, por outro, faz com que pessoas que não são a favor da mesma, arranjem outras formas de defesa, que por sua vez irão ajudar as que não sabem nem souberam se defender, violentamente ou não.
Émostrando pois que as pessoas tomam conhecimento da existência de injustiças. Não é escondendo a cabeça na areia, que a verdade pode ser defendida.
Desculpe ..mas discordo da sua indignação. No entanto, respeito-a.

AC disse...

Provavelmente não soube explicar convenientemente.

Eu não sou apologista de enterrar a cabeça na areia, nem de esconder o que quer que seja. Só denunciando os casos, só fazendo documentários, só fazendo aparecer testemunhos, só sentindo-se acompanhadas (no sentido de haver muitas mais e de haver quem ouça sem julgar) e sabendo que há apoios ( fracos por vezes, e insuficientes) faz com que mais mulheres tenham a coragem de mudar/sair das situações em que se vêem envolvidas e tentem lutar pela vida digna a que todos têm direito, sem violência.

Como sabemos esta questão não é apanágio das classes menos favorecidas, e sabemos que são até muito frequentes em situações de elevado status social como muito bem afirmou...

Quando falo da reprodução fictícia/verídica dos factos falo, da repetição constante dada pela comunicação social aos acontecimentos, sejam eles de que quadrante forem, falo do massacre de imagens a que estamos sujeitos durante a mesma explicação noticiosa.

Quando falo que gera violência, falo não na capacidade legítima da vítima se defender (como acontece amiúde, para defenderem os filhos, ou elas próprias irem elas parar à cadeia), mas saturação de imagens, de confrontos, de tensões, de agressões que nos se infiltram na nossa mente...não me faz a mim ou a si uma pessoa violenta, mas minam e entranham-se na mente de outras pessoas mais susceptíveis, criando padrões de medo, ansiedade, stress(...) mesmo sem dar-mos conta, podendo vir a definir insuspeitados comportamentos futuros.

(estou a lembrar-me agora das notícias dos tiroteios nas escolas,(...) dos jogos de computador e consolas. Dirão muitos que são apenas jogos, puro divertimento. Estranho divertimento quando se passa horas a tentar conseguir pontos eliminando, atropelando idosos, grávidas, crianças...
E isto é só um exemplo, há muitos.
Quem sabe em que dia o reflexo pavloviano não actuará na mente destas crianças -porque muitas são!

Hoje o meu filho chegou a casa da escola sec. com a notícia de uma colega que tinha espetado a ponta de uma tesoura na mão de outro colega, depois de lhe ter arranhado com a mesma no pescoço, como se duma faca se tratasse -eu pôr aqui um link com a simulação do sucedido( provavelmente o Youtube terá os seus exemplares), seria melhor, para entender do que falo? seria, mas também seria desnecessário.
motivo: ele não lhe quis dar uma pastilha elástica, e ela resolveu o assunto...
Não houve um 'duende' de telemóvel , ladino suficiente para captar estas imagens, ou amanhã, tinha aparecido vezes sem conta nas notícias do dia...se houvesse sangue então...
(fraco o meu exemplo, mas percebeu o que quis dizer)

De facto a violência subliminar e oculta, pode fazer muitos danos e estragos, e essa, não mostra marcas, fere na pele e na alma de outros modos.

Alegro-me que esses 11 anos tenham acabado, e o (seu) sol brilhado de novo, sem peneira :-)
AC

Fresquinha disse...

AC,

Compreendi muito bem o que me quis dizer. Melhor desta vez.
No entanto, acho muito difícil denunciar uma situação, sem a mostrar crua e dura. É infelizmente assim que as pessoas têm a real noção da violência desse crime. Incomoda ? Certamente que sim.
Ontem, num programa da Oprah, apareceu Mary Steinway que dizia: Agora sei a diferença entre Tristeza e Depressão. Na depressão, nada importa. Na Tristeza, tudo importa.
Vivemos num País depressivo e deprimido. Nada importa. Eu preferia viver num País Triste porque TUDO importa. Certo que a violência explícita é muito dura de ver. Mas como explicar violência que não se afigura violenta ? Fazer omelettes sem ovos ?
Concordo que estamos bombardeados com a violência actual, que é real. Se passarmos ....eu insisto, a vida a mostrar paisagens que nos agradam para explicar coisas que nos matam, estamos a jogar para que nada seja feito. Eu escolhi não ver mais um telejornal. Sou livre. As imagens incomodam-me mas mais do que isso, afectam-me. Dei comigo a chorar a cada noticiário. Agora que sei do que se passa, fico a lamber as minhas feridas, e a contribuir para que as pessoas conheçam a vida do amor e da paz, pelo menos com o meu exemplo. Não escondo a cabeça na areia porque conheço os factos. Mas escolho, proteger-me da violência, não olhando a violência que sei estar lá.
Estes são os tempos. Maus tempos, porém. Contudo, há tanta coisa linda nestes tempos que tenho publicado. Mas se a vida não é toda linda, porque furtar-me a temas que me dizem e nos dizem directamente respeito. Hoje não sou vítima de agressões, mas o problema diz-me respeito. Então, há que optar pela técnica dos chineses. Água mole, em pedra dura. A coisa que mais custa a mudar é a cultura das pessoas. E este problema, em especial, é um problema de construção cultural. Não há muito tempo, ouvi um JOVEM dizer, a propósito de violência doméstica: "Se apanhou foi porque mereceu". Era um jovem.
O que significa que estas campanhas de sensibilização estão no bom caminho mas ainda não conseguiram o objectivo.
Não sou Femininista. Sou feminina. Mas acho que o movimento femininista (que radicaliza tudo) fez um excelente trabalho. O método era exagerar para que as pessoas compreendessem um pouco ... e compreenderam. Estão a caminho disso.
Esta é a prova cabal que andamos meio adormecidos e cheios de vontade de fugir a uma realidade cruel. E são precisos meios drásticos para acordar e meter-lhes na cabeça, certos conceitos fundamentais de liberdade, de justiça e de equidade.
Tem razão quando diz que não melhora a realidade das pessoas que a sofrem. Mas melhora significativamente a realidade global. É um dizer Basta ! Nós importamo-nos ! Vamos lá a resolver isto. E a prova é que se regista um número crescente de pessoas a denunciar violência. Alguma coisa se fez. E é preciso fazer muito mais.
Exemplos opostos, dão-nos a prespectiva do seu oposto. Não promove a Paz, trabalha para a Paz. Há muitas formas de o fazer. Esta é apenas uma delas, tão lícitas quanto as outras.

AC disse...

Não pretendo que se furte de nada, muito menos do que é belo, nem do que é real.
A verdade, é que também já optou por não ver o noticiário, pois eu também. Porque eu também escolho livremente proteger-me da violência, sabendo-a lá.
E não é por ver 'paisagens bonitas' que esqueço o estado do mundo, é também vendo paisagens bonitas que me nutro, e alimento para continuar esta dura tarefa de viver. Viver bem, porque comparativamente há cenários pelo mundo que minimizam os nossos ridiculos problemas.

Para mim, não dissocio a tristeza da depressaõ, pois penso que um profundo estado de uma leva à outra, num ciclo em tudo vicioso, que já não se sabe mais onde começa uma e acaba outra.
Tudo importa, tudo nos faz chorar, tudo magoa, tudo entristece.

E entristece-me também a falta de equilíbrio, de consciência.
Tempos de mudança estes...

'só por hoje, não se zangue, não se preocupe...'

Fresquinha disse...

Não vejo noticiários porque deturpam a realidade. Leio, documento-me e informo-me. Não gosto é do sensasionalismo dos noticiários. Já viu a "paz" com que os apresentadores apresentam as notícias mais tristes ? Não, não estou alheia aos tempos de hoje. E o meu blog denuncia isto.
Não gosto de ser manipulada pelos media, nem dos soap opera de casos comezinhos que duram, duram, duram ...
Interesso-me pela realidade internacional. Interesso-me pela humanidade.
E sou livre. Tal como não vou ver filmes de ficção, não gosto de noticiários, nem de grão, nem de atum ...
Não fujo. Não tenho tempo para perder tempo.
Agora, acho que todas as pessoas que são sensíveis a certos assuntos, deveriam ter a coragem de fazer um clic, passar à frente, ver outra coisa, fazer zapping ...
E é nesta disponibilidade que eu aceito que não goste de violência. Quem gosta verdadeiramente ?
Faça zapping no meu blog. Eu compreendo.
Nem sempre a depressão é um sinónimo de tristeza e vice versa. As pessoas confundem estar depressiva e estar deprimida. Estar deprimida é sinal de falta de vitalidade, uma tristeza profunda. A depressão é apatia pura. Mas isso é assunto para outro post.
Obrigada pelo feedback.

AC disse...

Quem lhe disse que quero fazer zapping aqui?

Obrigada .

Fresquinha disse...

Fico muito satisfeita se não o fizer. :-)

Paula disse...

Obrigada pela abordagem deste tema de uma forma tão frontal.
A violência doméstica existe...as marcas da violência fisica são por vezes visiveis...mas piores ainda são as marcas da violência psicológica, que ninguém vê...só nós as sentimos.
É uma morte lenta...minuto a minuto...enquanto esperamos uma reação a um qualquer olhar, gesto, palavra nossa."Vivemos" na esperança/ilusão de que um dia tudo irá mudar.
E de repente, um dia, acordamos e vemos que o outro não muda, mas nós mudámos e o Medo é substituido pela CORAGEM e dizemos: CHEGA! EU TAMBÉM MEREÇO VIVER E SER FELIZ!
E nesse dia renascemos para a VIDA!

Mas para esse dia chegar a todas as pessoas (mulheres e homens) vitimas de violência doméstica, eles têm de saber que não são os únicos, que podem procurar ajuda e que merecem viver dignamente.

Abraço

Paula

Fresquinha disse...

Isso mesmo, Paulisha !

Somos responsáveis (e não, culpados)pela nossa realidade.

Bj